A dinâmica do mercado de atacado no Brasil tem se mostrado surpreendente, especialmente quando analisamos o comportamento das diferentes camadas de renda da população. Dados recentes da Nielsen revelam que as classes mais altas frequentam os atacarejos com maior frequência do que as classes de menor renda. Este fenômeno não só desafia percepções comuns, mas também abre novas oportunidades para o setor.
O Perfil de Compra das Classes Sociais
Frequência de Visitas ao Atacado
Um levantamento da Nielsen, realizado até março de 2024, indica que 63% dos consumidores das classes C, D e E visitaram lojas de atacarejo nos últimos doze meses. Em contrapartida, entre os consumidores das classes A e B, esse percentual ultrapassa 75%. Essa diferença significativa sugere que, embora o atacarejo tenha sido tradicionalmente associado a consumidores de baixa renda, as classes mais altas estão se aproveitando das vantagens desse modelo de negócios.
A Opinião dos Especialistas
Gabriel Fagundes, diretor de insights da NielsenIQ, destaca que essa tendência demonstra o potencial inexplorado do atacado entre as camadas menos favorecidas. Ele afirma: “Isso mostra como o atacarejo pode ganhar muito mais mercado entre as camadas de menor renda e vai contra uma percepção geral de que o atacarejo tem um consumo já explorado entre classes de baixa renda.”
Fatores que Influenciam o Comportamento de Compra no Atacado
Localização das Lojas
Um dos fatores que impacta a frequência de visitas aos atacarejos é a localização das lojas. Muitas estão situadas fora dos grandes centros urbanos, onde o custo do metro quadrado é mais acessível. Esse cenário exige que os consumidores se desloquem maiores distâncias para realizar suas compras, o que pode ser um obstáculo, especialmente para as classes de menor renda.
Volume de Compras e Atração das Classes Altas
O modelo de atacarejo, que incentiva compras em maior volume, acaba atraindo principalmente as classes A e B. A percepção de que o alto desembolso por compra resulta em economia a longo prazo é um dos principais fatores que levam esses consumidores a optar por esse formato. Dados apontam que as lojas de atacarejo oferecem preços, em média, 10% a 15% inferiores aos supermercados tradicionais, o que se traduz em uma economia significativa para os compradores.
Tendências de Mercado e Oportunidades no Atacado
Crescimento nas Capitais
Nos últimos anos, observou-se um aumento no número de unidades de atacarejo em capitais, especialmente com a expansão de redes como Assaí e Atacadão. Essa estratégia visa aproximar o atacarejo de diferentes perfis de consumidores, embora isso acarrete um aumento nos custos operacionais devido ao preço dos terrenos nas áreas urbanas.
Potencial Inexplorado das Classes Baixas
O relatório “Tropicalizar para Crescer”, apresentado pela Nielsen, analisa o potencial das classes de menor renda na América Latina. O estudo revela que apenas 14% do gasto dessas classes está alocado em marcas de alto valor, comparado a 20% do total de gastos das classes sociais. Embora essa diferença indique uma oportunidade de crescimento, também reflete a cautela dos consumidores em relação a investimentos em produtos de maior valor.
Comportamento do Consumidor e Percepção de Qualidade
A Busca por Produtos de Qualidade
Consultores de consumo afirmam que os consumidores de menor renda tendem a ser mais cautelosos em suas compras. Isso se deve ao receio de adquirir produtos de baixa qualidade, o que poderia resultar em desperdício financeiro. Assim, muitos buscam marcas que são percebidas como de maior qualidade, mesmo que essas marcas sejam mais caras.
A Importância das Marcas de Alto Valor
Fagundes ressalta que, apesar da predominância das marcas de baixo custo, 14% do gasto das classes mais baixas é direcionado a marcas mais caras. Ele observa: “O senso comum das empresas é pensar que explorar o consumo na menor renda ‘não é para mim’, mas isso não é necessariamente verdade.” Essa percepção pode ser um fator limitante para o crescimento das marcas que ignoram esse segmento.
A Recuperação do Consumo Pós-Pandemia e o Atacado
Estabilidade Econômica e Aumento da Demanda
Após um período desafiador devido à pandemia, a estabilidade dos indicadores econômicos tem incentivado um aumento na demanda por produtos, incluindo aqueles de maior valor. Fagundes comenta que a previsibilidade econômica leva os consumidores a gastar mais e explorar novas marcas. “Estamos vendo crescimento em valor e volume vendido, distribuído entre diferentes classes e categorias de produtos”, afirma.
Exemplos de Sucesso
Marcas de alto preço que conseguiram ampliar suas vendas entre as classes C, D e E têm adotado estratégias inovadoras. Produzir linhas com menor volume e, consequentemente, preços mais acessíveis tem se mostrado uma abordagem eficaz. Um exemplo notável é uma marca de temperos que, embora seja mais cara que a média, mantém uma forte percepção de valor entre os consumidores.
Conclusão sobre o perfil de compra no Atacado
Em resumo, a análise do comportamento de compra no atacarejo revela um cenário dinâmico e cheio de oportunidades. As classes de alta renda estão cada vez mais integradas ao modelo de atacarejo, enquanto as classes de menor renda mostram um potencial significativo a ser explorado.
Então, à medida que as empresas adaptam suas estratégias para atender a esse mercado diversificado, é crucial que compreendam as nuances do comportamento do consumidor. A busca por qualidade e o desejo de economizar podem coexistir, oferecendo um terreno fértil para inovação e crescimento. Assim, o atacarejo se posiciona não apenas como uma opção de compra, mas como um verdadeiro catalisador de mudanças no consumo no Brasil.
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