Medo de falhar entre jovens

Por que os jovens sentem medo de errar?

Saúde

O medo de falhar é um sentimento que muitos jovens enfrentam, e essa pressão pode ser avassaladora. Filipa Lousa, uma estudante de 23 anos, compartilha sua experiência e revela como essa ansiedade a acompanha desde a infância. Desde sua primeira memória sobre os exames de aferição do quarto ano, Filipa sentiu o peso da expectativa e a necessidade de se destacar. Este artigo explora como a busca pela perfeição e a pressão social afetam a saúde mental dos jovens.

A Origem do Medo de Falhar

A Primeira Memória

“Os meus pais nunca me deixam esquecer que, no primeiro ano, perguntei à minha professora sobre os exames de aferição do quarto ano: como é que eram, o que tinha de estudar e se devia começar logo”, relata Filipa. Essa pergunta inicial reflete um padrão de comportamento que se intensificou ao longo dos anos. O medo de falhar tornou-se um companheiro constante, levando-a a questionar suas capacidades e a se preocupar excessivamente com os resultados.

A Pressão para Ser Perfeita

Filipa explica que sente a necessidade de ser “perfeita” em tudo que faz. Ela menciona: “Tenho de ser a melhor pessoa que puder ser, ter as melhores notas e trabalhos, fazer comentários interessantes nas aulas, trabalhar muito bem e nunca me enganar.” Essa pressão para atender a padrões elevados não vem apenas de si mesma, mas também de um contexto social que valoriza o sucesso absoluto. Além disso, essa constante busca por excelência pode levar a consequências emocionais significativas.

Fatores que Contribuem para a Ansiedade

Pressão Social e Vazio

Soraya Bento Morais, psicóloga clínica nos Serviços de Psicologia, Inclusão e Igualdade da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa, aponta que dois fatores principais contribuem para esses sentimentos de inadequação: “a pressão para o sucesso” e “o vazio”. A sociedade atual, repleta de comparações e padrões inatingíveis, intensifica a sensação de que falhar não é uma opção. Portanto, essa pressão externa se transforma em um fardo emocional que muitos jovens não conseguem carregar sozinhos.

O Ciclo da Autocrítica

Filipa menciona que, ao falhar, sente que decepciona não apenas a si mesma, mas também a seus amigos e familiares. “Se os meus pais, ou alguém, alguma vez pediu isso de mim? Nunca, mas sinto que os habituei a eles e aos meus amigos e conhecidos a ser assim, então não posso mudar, estaria a desiludi-los”, afirma. Essa autocrítica constante cria um ciclo vicioso, onde a pressão interna se alimenta da expectativa externa. Assim, o medo de falhar se torna uma barreira que impede o desenvolvimento pessoal.

O Impacto da Ansiedade na Vida Diária

A Reação ao Fracasso

A reação de Filipa ao fracasso é intensa. “Na faculdade, se tirar uma nota um ou dois valores abaixo do que estou habituada, choro”, revela. Essa resposta emocional demonstra como a pressão pode afetar a saúde mental. O medo de falhar se transforma em um obstáculo que impede o desfrute das experiências, tornando cada pequeno erro uma grande fonte de estresse. Além disso, essa ansiedade pode prejudicar o desempenho acadêmico e a autoestima.

A Experiência no Trabalho

Recentemente, Filipa começou a trabalhar em uma loja de roupas, onde também enfrentou desafios. “Nos primeiros dias, fiz alguns erros, então ia chorando à frente dos colegas”, conta. Essa situação evidencia como a ansiedade pode se manifestar em diferentes contextos, dificultando a adaptação e a confiança em ambientes novos. Por outro lado, essa experiência também pode ser uma oportunidade de aprendizado, caso Filipa consiga reverter sua percepção sobre o fracasso.

A Necessidade de Mudança

Aceitar o Fracasso como Parte do Processo

Um dos maiores desafios enfrentados por Filipa é a dificuldade em aceitar o fracasso. “Se tiver algum aspeto novo na vida, por exemplo, entrar num ginásio, ou sou boa nele ou penso em desistir”, compartilha. Essa mentalidade de tudo ou nada impede o crescimento e a aprendizagem. Aceitar que falhar faz parte do processo de desenvolvimento pode ser um passo crucial para a superação desse medo. Além disso, essa aceitação pode abrir portas para novas oportunidades.

Estratégias para Lidar com a Ansiedade

Soraya Bento Morais sugere algumas estratégias que podem ajudar os jovens a lidar com a pressão e a ansiedade:

  1. Redefinir o Sucesso: Em vez de buscar a perfeição, os jovens devem aprender a valorizar o progresso e as pequenas conquistas. Isso pode aliviar a pressão e permitir um crescimento mais saudável.
  2. Praticar a Autocompaixão: Ser gentil consigo mesmo em momentos de falha é fundamental. A autocrítica pode ser substituída por uma abordagem mais compreensiva, o que ajuda a construir resiliência emocional.
  3. Estabelecer Expectativas Realistas: Criar metas alcançáveis pode reduzir a pressão e permitir que os jovens se sintam mais confortáveis em suas jornadas. Além disso, isso pode ajudar a evitar a frustração.
  4. Buscar Apoio: Conversar com amigos, familiares ou profissionais pode proporcionar alívio e ajuda na gestão da ansiedade. Portanto, é importante que os jovens se sintam à vontade para pedir ajuda quando necessário.

O Papel da Sociedade

A Influência das Redes Sociais

Então, a sociedade contemporânea, especialmente com o advento das redes sociais, intensifica a pressão sobre os jovens. As imagens de vidas perfeitas e conquistas constantes criam um ambiente de comparação que pode ser prejudicial. É essencial que os jovens aprendam a filtrar essas influências e a reconhecer que as redes sociais muitas vezes apresentam uma versão distorcida da realidade. Além disso, a pressão para se encaixar em padrões irreais pode agravar ainda mais a ansiedade.

Promover uma Cultura de Aceitação

Para mitigar a pressão sobre os jovens, é fundamental que a sociedade promova uma cultura de aceitação e compreensão. Isso inclui:

  • Celebrar a Diversidade de Sucessos: Reconhecer que o sucesso pode ter diferentes formas e significados para cada indivíduo. Isso ajuda a criar um ambiente mais inclusivo e menos competitivo.
  • Valorizar o Aprendizado: Encorajar os jovens a ver o fracasso como uma oportunidade de aprendizado, em vez de uma marca de desonra. Essa mudança de perspectiva pode ser libertadora.
  • Fomentar Diálogos Abertos: Criar espaços onde os jovens possam compartilhar suas ansiedades e medos sem medo de julgamento. Isso pode ajudar a normalizar as conversas sobre saúde mental.

Próximos passos

Portanto, o medo de falhar é um tema recorrente entre os jovens, e a busca pela perfeição pode ser um fardo pesado. Filipa Lousa exemplifica como essa pressão pode afetar a saúde mental e a qualidade de vida. No entanto, ao adotar uma nova perspectiva sobre o fracasso e buscar apoio, é possível transformar essa ansiedade em uma força motivadora. A sociedade, por sua vez, deve trabalhar para criar um ambiente que valorize a autenticidade e a aceitação, permitindo que os jovens se sintam livres para explorar suas capacidades sem o temor constante de falhar. Assim, é possível construir um futuro onde o medo de falhar não impeça o crescimento e a realização pessoal.

 

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